Páginas

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Briga de Galo

Por: Wandemberg
Briga de Galo
 De certa feita...Um caixeiro viajante, assíduo frequentador de rinhas e viciado em apostar em brigas de galo, chegou a uma cidadezinha do interior mineiro, a qual ainda não tinha visitado, e, a primeira coisa que fez foi procurar a rinha local.
 Chegando lá, eis que, as lutas preliminares já haviam acontecido e o evento estava prestes a ter fim. Faltava, entretanto, a última e mais concorrida 'briga' da noite, protagonizada por dois galos desconhecidos e oriundos de outras cidades. Em razão da contenda os apostadores ensandecidos pela expectativa, apostavam, freneticamente, induzidos pelos comentários especulativos que circularam pela cidade, gerados por aqueles que se incumbiam de enaltecer às qualidades assassinas  dos dois contendores de penas.
 Chegado a hora da grande briga, o interlocutor se prestou a anunciar os contendores. Um deles era um galo pardo, feio de 'doer', cabisbaixo, de jeito tímido e olhar entristecido que tinha o apelido de ‘Epitáfio’. O outro, ao contrário, era branco, bem tratado, forte, com ares de presunção, e, indiscutível pinta de campeão, que, com acentuada dosagem de sadismo, não parava de olhar desdenhosa e ameaçadoramente para seu adversário, que não ousava se quer sustentar o olhar para com aquele que dentro de instantes iria para uma luta de vida ou morte!
 Não obstante os indícios favoráveis ao galo branco, o caixeiro viajante estava em dúvida. Seu instinto mandava apostar no galo pardo, porém a autoconfiança demonstrada e a postura de campeão evidenciada no galo branco era algo a ser considerado. Olhava para um  e para outro na vã tentativa de avaliá-los , mas a dúvida atroz permanecia. Até que seu olhar deparou com um mineirinho, sentado em um caixote, próximo a arena, pitando calmamente um cigarrinho de palha. 'Esse mineirinho tem jeito de quem acompanha todas as brigas', pensou o caixeiro viajante.
 -Bom dia, meu bom mineirinho! O senhor pode me informar qual dos dois galos é o bom!
  -Dia seu moço! Pela informação que tivi, u bão é o galu brancu, uai!
  Ouvindo isso dirimiu sua dúvida e apostou toda a grana disponível no galo que o mineirinho garantiu ser o bom, o branco.
 Momentos depois , após o ritual de apresentação que precede  aos encontros entre galos de briga, o juiz mandou soltar às feras na rinha. O branco ostentando a marra que demonstrara desde o momento que o caixeiro o viu pela primeira vez, foi pra dentro do galo pardo, babando, e com a ira dos assassinos compulsivos estampada no semblante. Pra quê? Antes que o fanfarrão se aproximasse o suficiente para golpeá-lo, eis que, o galo pardo, como num passe de mágica, começa a sofrer bruta transformação, psicológica, moral, física. A impressão que se tinha era que o galo pardo começava a inflar, como se recebesse bombadas de ar. Seus olhos, antes tristes, ganham expressão de extremo ódio, daquele só encontrado em olhares de psicopatas. Seus esporões, que até então eram praticamente invisíveis, em questão de segundos vieram à tona, se tornando compridas e afiadas garras, e, como que, para impregnar o momento de um clima mais fatídico, ciscou no piso de cimento arrancando faíscas, que provocaram o arrepio das torcidas...Foi aí que o 'marrento' galo branco percebeu a ‘fria’ em que tinha se metido, quis voltar, mas já era tarde.  Agora, quem ía pra cima era o Epitáfio, lentamente, com a calma premeditada dos perversos, que antes de matar suas vítimas, às torturam, para depois, sim, beber até a última gota do sangue daqueles que, como o inadvertido galo branco, ousaram um dia, 'cruzar' seu caminho.
 Uma saraivada de porradas fez com que o branco fosse projetado para o outro lado da rinha, já com um olho vazado, e com as penas começando a ganhar tons de vermelho, tintada pelo sangue que jorrava, abundantemente. O branco bem que tentou, ainda, pular pra fora da rinha, mas alguém o jogou de volta para a arena. Sem um pingo de dó, no segundo bote, o pardo enfiou às garras, que mais pareciam tesouras, arrancando o outro olho do adversárioenquanto a  torcida, em minoria, daqueles que apostaram no pardo,  gritava com sadismo incoercível o nome do “Epitáfio”
 Dali para o golpe de misericórdia  foi fração de segundo. Epitáfio enfiou o esporão direito no peito do branco e  abriu de ponta a ponta, fazendo com que as vísceras, do inadvertido galo marrento, saíssem para fora. Era o fim da luta e do galo Branco. Mesmo assim num ataque de ira o pardo continuou o ataque ao cadáver do oponente, até que o juiz da contenda o abafou com um saco de  linhagem, dando por encerrado a briga de galo, com a vitória do Epitáfio.
 Minutos depois o galo vencedor voltou a ostentar aquela 'cara de babaca', que apresentara antes da luta.
 Decepcionado, por ter perdido a aposta, e se sentindo iludido pelo mineirinho, o caixeiro viajante, foi ter com este para reclamar pela informação errada.
 -Você não disse que o bom era o branco?
 -Uai, disse i ripitu! O bão era u falecidu brancu! U Pobrema é qui u pretu é rim qui só a pesti! U sinhô não viu só u qui ele fez cum u pobri du brancu? Justificou-se o mineirinho. 

 A estória não é de minha autoria, parece ser de utor desconhecido, Li anos atrás em algum lugar, e resolvi conta-la com minhas palavra, por achá-la interesante.  

Nenhum comentário: