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quinta-feira, 3 de março de 2011

O Cavaleiro da Esperança


Série: De certa Feita... Por: Wandemberg

De certa feita fui convidado por Alexandre a participar de um evento em que certo cidadão histórico iria comparecer para trazer a palavra da ideologia que seguia(comunista). Meu amigo Alexandre, organizador e coordenador do evento, além de Brizolista, era pedetista de carteirinha. Já eu, apenas Brizolista.
O evento se deu no então 4º Distrito de Nova Iguaçu (Belford Roxo), na casa de Ari Silva, há época, importante integrante do PDT municipal.
Os militantes dos partidos, ditos de esquerdas, estavam todos lá gritando palavras de ordem e agitando suas bandeiras com predominancia na cor vermelha: PCB, PCdoB, PDT, PT(um novo partido que ganhava força).

Nesse clima de euforia meu amigo, de microfone em punho, começou a convidar aqueles que comporiam a Mesa, cerca de 12 pessoas, a maioria vereadores do Legislativo Iguaçuano e ainda Aluiso Gama (há época postulante ao cargo de Prefeito de Nova Iguaçu) esposo da atual prefeita Sheila Gama. Foi quando para minha surpresa , com ar e voz solene, como se estivesse se dirigindo a uma nova versão de Roberto Marinho, o interlocutor me convidou para fazer parte da mesa:
"Convidamos o jornalísta Wandemberg Nascimento Camara a compor a mesa".
Em nome da verdade lhes digo. Pouco valeu a enfase dada pelo interlocutor, posto que menos de meia dúzia de palmas me acolheu.
A cadeira indicada para que eu tomasse acento à mesa ficava ao lado direito da cadeira central ocupada pelo futuro Prefeito Aluísio Gama, que tinha a seu lado esquerdo o tão ilustre cidadão. Ambos, ao contrario de mim, delirantemente aplaudidos quando tiveram seus nomes anunciados.
Após a composição da mesa Alexandrre, passou a convidar sucessivamente alguns de seus ocupantes para discursarem. Eram pronunciamentos longos marcados pelo egocentrismo e proferidos com fulcro na 1ª pessoa do singular: Eu fiz isso...! (...)fiz aquilo...! (...) Fiz aquilo outro...! O desinteresse da platéia era evidenciado pelo falatório paralelo aos discursos cada vez mais enfadonhos.
De repente , não mais que derrepente, "como diz o outro", quando só faltavam, a meu ver, as falas daqueles que realmente deveriam se pronunciar: Aluísio Gama (candidato da esquerda) e, o ilustre convidado, meu amigo Alexandre, inadivertidamente, manda essa!
-Com a palavra o jornalista Wandemberg Nascimento Camara! Será que ele estaria se referindo à minha pessoa, me perguntei? Olhei para um lado, olhei para o outro e cheguei a embaraçosa conclusão. É, parece que o único Wandemberg aqui sou eu! Por que será que os Wandembergs são tão raros? Ocorre que que nunca na vida houvera pronunciado um único discurso e, jamais entrou em minha lista de pretenções a idéia de falar em público. Quando desci ao planeta o criador não me permitiu o dom da palavra, permitiu-me, isso sim, no máximo escrever umas matérias 'chinfrins' como essa, por isso mesmo, tinha pavor a microfones(até hoje tenho)meu objetivo principal ali, era, tão somente, fazer matéria para o jornal Tribuna de Miguel Couto, que foi o primeiro jornal de daquela localidade. Ademais , se fosse falar o bloqueio seria certo. Ía gaguejar, contradizer-me e com certeza muitos dos presentes zombariam de mim. Quem sabe até me dariam uma homérica vaia. Meu embaraço, não passou despercebido pela platéia, e , curiosamente , acabou virando o antídoto que fez com que cessassem o falatório, e todos, sem excessão, me dirigissem os olhares que me puniam com o constrangimento.
Naquele momento de angustia o som mortal do silêncio absoluto chegava a doer em meus ouvidos. De um lado eu ali estático olhando para o público com os olhos esbugalhados sem saber o que dizer. De outro o público, mudo, da mesma forma olhando apra mim, com chispas de sádica cobrança, como se exigisem de mim um pronunciamento imbecil, simplesmente para me lincharem, logo após.
Foi quando meu anjo da guarda resolveu intervir e me tirar daquela situação embaraçosa, ditando em minha mente a saída de mestre (que repeti) de um humilde discípulo, que foi ali apenas para conhecer um verdadeiro Mestre.
" Amigos, gostaria muito de ter o que lhes dizer, como fizeram os que usaram à palavra antes de mim. Ocorre que não vim aqui para isso. Vim com o mesmo objetivo que os senhores da platéia, qual seja , de ouvir e aprender com o Mestre aguardado. Por isso cedo, integralmente, o tempo à mim concedido, para o Cavaleiro da Esperança - Luiz Carlos Prestes(foto)!", esse era o nome do palestrante.
Agradecido pela deferência Luiz Carlos Prestes, desceu de sua cadeira, rodeou Aluisio Gama e me deu um beijo na testa. Baixinho, ele equiparava sua altura à minha(tenho 1.82m), mesmo eu estando sentado e ele de pé.
Até hoje me indago. Como pode um homem tão baixo na estatura física, legar páginas tão gigantes à história da Nação Brasileira? Só pode ser a estatura moral, penso!

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