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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mistério no Sítio dos confins de Rio D'ouro


Maria Fumaça na estação de Rio D'Ouro

Por: Wandemberg
De certa feita, há cerca de cinquenta e tantos anos atrás Namiro, que hoje é aposentado e morador de Miguel Couto deixou Minas Gerais e veio morar com a família no Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro Moquetá, aqui em Nova Iguaçu. Foi quando seu pai que se chamava Joaquim conheceu um comerciante que, por coincidência, também era Joaquim. Tão logo se certificou da honradez e da experiência no trato com as coisas da terra do Joaquim ‘mineiro’, o Joaquim ‘comerciante’ fez ao xará uma proposta para que ele fosse tomar conta e morar com a família em um sítio seu, que distava cerca de uma hora de Rio D’Ouro (andando - a pé).
Após conhecer o local a família se encantou e, de pronto, o velho deu a palavra final aceitando a proposta do comerciante. “É muita sorte um local como este estar sem caseiro, comentou um dos filhos!”. Com efeito, pelo menos para os que não conhecessem, mais amiúde, o local, tinha sentido a observação. 
Até o limite do olhar humano fartura e beleza ressaltavam-se naquele local. A começar pelo viço da horta, passando pelo pomar repleto de coloridas frutas, um riacho abalroado por carás, piabas, bagres, traíras e outros peixes mais, e, ainda, para diversificar qualquer cardápio, um imenso - cercado de tela - tendo ao centro o galinheiro, onde galinhas caipiras se misturavam às d’angolas, patos, marrecos e perus. Um pouco mais distante – a sinuosidade das serras do - Alto Tinguá - tintadas pela mãe natureza nos mais variados tons de verde da Mata Atlântica tinha encontro obrigatório com o magnífico azul do céu que, se durante o dia ganhava claridade ao ser banhado pela luz do Sol, durante as noites, despoluídas daqueles tempos, seu azul escuro profundo, contrastava com o brilho ofuscante das estrelas, lembrando uma abóbada aveludada sobreposta a um  punhado de cintilantes diamantes, evidenciando a grandeza insondável do infinito. Mal sabiam, porém, que não obstante toda aquela maravilha coisas estranhas, muito estranhas, aconteciam com frequência naquele distante pedaço de terra. Coisas que acabaram por deixar perplexos os membros daquela prole familiar.
                                  ***
-Eu era ainda uma criança quando fomos morar naquele sítio em Rio D’Ouro. Toda a vez que lembro desse episódio chego a ficar de cabelo em ‘pé’, disse Namiro apontando o dedo indicador, em riste, para os cabelos do antebraço que se encontravam arrepiado! 
Pelo alvoroço dos cães ladrando no terreiro, achamos que algum animal selvagem houvera invadido o sítio. Meu pai sem perda de tempo carregou a espingarda calibre 12, com ‘poder de fogo’ suficiente para derrubar um ‘dinossauro’ e, tendo eu e meu irmão a segui-lo, se dirigiu para o local da balburdia. De certo, fosse qual fosse o animal invasor estaria em apuros, até porque, o velho era considerado exímio atirador conforme ficara comprovado tempos atrás nas matas mineiras, por isso imaginei que, logo logo, o couro do bicho estaria esticado na parede, ou servindo de tapete no piso tosco da ampla sala - a molde de decoração.
Ao chegarmos ao local da algazarra, verificamos que aos poucos nossos cães foram se aquietando. Agora o alvoroço se dava no sítio ao lado e os latidos vinham da matilha do vizinho, certamente a fera teria ultrapassado os limites da propriedade. Mas como poderia, se a cerca que limitava os dois sítios era, por assim dizer, uma extensa ‘muralha’ de intransponível espinheiral? Nada, nem ninguém, teriam como transpô-la em curto período de tempo. Para intrigar ainda mais nossas mentes, os cães de nosso sítio voltaram a atacar. A algazarra agora era alternada – em alguns minutos se dava em nosso território, em outros na propriedade ao lado.
Sob as ordens de papai, nos acocoramos por trás de uns arbustos e aguardamos que o motivo de toda aquela balburdia surgisse em nosso campo visual. Para buscar mais precisão no momento do tiro, o ‘velho ’, ‘descansou’ , estrategicamente, o cano da ‘12’ na forquilha de um arbusto por trás do qual se atocaiara e ficou pacientemente no aguardo. A sorte do ‘bicho’ estava lançada!    
Já se iam alguns minutos quando para nosso espanto, eis que, surge bem a nossa frente uma figura do tamanho de um homem tendo a cachorrada toda em seu encalço. Ao determos-nos em sua silhueta e movimentos, o pavor tomou conta. Meu pai nem tanto, porém eu e meu irmão, sim!Aquela coisa não era humana, também não poderia fazer parte de animais pertencentes à fauna do planeta. Fosse lá o que fosse, deslocava-se saltitando propulsionado pelas patas traseiras e usando as dianteiras apenas como base para apoiar-se ao chão. Mais ou menos como se fora um gigantesco sapo.
Sem se fazer de ‘rogado’ meu velho corrigiu a pontaria e ‘mandou chumbo’. O bicho sumiu como por encanto na fumaça e no cheiro da pólvora queimada, e, o silêncio voltou a reinar naquelas paragens. No dia seguinte vasculhamos toda a área e não encontramos nenhum vestígio daquela ‘coisa’, concluiu Namiro, com uma réstia de indisfarçável pavor na voz. 

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