MISTÉRIOS DO SÍTIO NOS CONFINS DE RIO D'OURO
De certa feita, há cerca de secenta anos atrás, Namiro, que hoje é aposentado e residente em Miguel Couto, deixou Minas Gerais e veio morar com a família no Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro Moquetá aqui, mesmo, em Nova Iguaçu. Foi quando seu pai que se chamava Joaquim conheceu um comerciante que, por coincidência, também era Joaquim. Tão logo se certificou da honradez e do trato com as coisas da terra do Joaquim 'mineiro', o Joaquim 'comerciante' fez ao xará uma proposta para que ele fosse tomar conta e morar com a família em um sítio seu, que distava cerca de uma hora e meia de Rio D'ouro(andando a pé).
Após conhecer o local, a família se encantou, e, de pronto, o 'velho' deu a palavra final aceitando a proposta do comerciante. "É muita sorte um local como esse estar sem caseiro", comentou um dos filhos!. Com efeito, pelo menos para os que não conhecessem mais amiúde o local, tinha sentido a observação. Até o limite do olhar humano fartura e beleza ressaltavam-se por ali. A começar pelo viço da sortida horta; passando pelo pomar repleto de coloridas frutas; um riacho abalroado por carás, piabas, bagres, traíras e outros peixes mais; e, ainda, para diversificar qualquer cardápio, um imenso cercado de tela, tendo ao centro o galinheiro, onde galinhas caipiras se juntavam às D'Angolas, patos, marrecos e perus. Mais distante - a sinuosidade dos topos das serras do Alto Tinguá, tintadas pela Mãe Natureza nos mais variados tons do verde da Mata Atlântica, tinham encontro obrigatório com o magnífico azul do céu que, se durante os dias não chuvosos ganhava claridade ao ser banhado pela luz do sol; durante às noites despoluídas daqueles tempos, seu azul, escuro profundo, contrastava com o brilho ofuscante das estrelas, lembrando uma abóbada aveludada, sobreposta a um punhado de cintilantes diamantes, evidenciando a grandeza insondável do infinito. Mal sabiam, entretanto, que não obstante toda aquela magnitude, coisas estranhas, muito estranhas, aconteciam com frequência naquele distante pedaço de terra. Coisas que acabariam por deixar perplexos os membros daquela prole familiar.
Daquela noite, Namiro nunca mais se esqueceu
-Eu era, ainda, um criança quando fomos morar naquele sítio em Rio D'Ouro. Toda vez que lembro desse episódio chego a ficar de cabelo em 'pé', conta Namiro apontando o dedo indicador para os cabelos do ante-braço, que se encontravam arrepiados! Pelo alvoroço dos cães ladrando no terreiro, achamos que algum animal selvagem havia invadido o sítio. Meu pai sem perda de tempo, carregou até à boca, a espingarda - calibre doze - com poder de fogo suficiente para derrubar até um 'dinossauro' e, tendo eu e meu irmão a segui-lo, se dirigiu ao local da balbúrdia. De certo, fosse qual fosse o animal invasor estaria em apuros, até porque, o 'pai' era considerado exímio atirador conforme ficara comprovado tempos atrás nas matas mineiras, por isso imaginei que, logo logo, o couro do bicho estaria esticado na parede, ou servindo de tapete no tosco piso da sala, a molde de decoração.
Ao chegarmos ao local da algazarra, verificamos que aos poucos nossos cães foram se aquietando. Agora o alvoroço se dava no sítio ao lado, e , os latidos vinham da matilha do vizinho, certamente a fera teria ultrapassado os limites da propriedade. Mas como poderia, se a cerca que limitava os dois sítios era, por assim dizer, uma extensa 'muralha' de intransponível espinheiral? Nada nem ninguém teria como transpô-la em curto período de tempo. Para intrigar ainda mais nossas mentes, os cães de nosso sítio voltaram a atacar. A algazarra agora era alternada - em alguns momentos se dava em nosso território, em outros na propriedade ao lado.
Sob as ordens de papai, nos acocoramos por trás de uns arbustos e aguardamos que o motivo de toda aquela confusão surgisse em nosso campo visual. Para buscar mais precisão no momento do tiro, meu 'velho', 'descansou', estrategicamente, o cano da 'doze' na forquilha de um arbusto, por trás do qual se atocaiara e ficou, pacientemente, no aguardo. A sorte do 'bicho' estava lançada!
Já se iam alguns minutos quando pra nosso espanto, eis que, surge bem à nossa frente uma figura do tamanho de um homem, tendo em seu encalço a cachorrada. Ao determos-nos em sua silhueta e movimentos, o pavor tomou conta. Meu pai nem tanto, porém eu e meu irmão, sim! Aquela coisa não era humana, também não poderia fazer parte de animais pertencentes à fauna do planeta (hoje sei). Fosse lá o que fosse, deslocava-se saltitando propulsionado pelas patas traseira e usando às dianteiras apenas como base para apoiar-se ao chão, como se fora um gigantesco sapo.
Sem se fazer de 'rogado', meu 'velho' fez pontaria e 'mandou chumbo'. O bicho sumiu, como por encanto,na fumaça da pólvora, e , o silêncio voltou a reinar naquelas paragens. No dia seguinte vasculhamos toda a área e não encontramos nenhum vestígio daquela 'coisa', concluiu Namiro, com uma réstia de pavor na voz.
Tecnologia de Ponta
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