Mistério do Sítio nos confins de Rio D’Ouro
De
certa feita, há cerca de cinquenta e tantos anos atrás Namiro, que hoje é
aposentado e mora em Miguel Couto deixou Minas Gerais e veio morar com a
família no Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro Moquetá, aqui
em nova Iguaçu. Foi quando seu pai que se chamava Joaquim conheceu um
comerciante que, por coincidência, também era Joaquim. Tão logo se certificou
da honradez, e, da experiência no trato com as coisas da terra do Joaquim
mineiro, o Joaquim comerciante de Nova Iguaçu fez ao xará uma proposta para que
ele fosse tomar conta e morar com a família em um sítio seu, que distava cerca
de uma hora de Rio D’Ouro (andando a pé).
Após conhecer o local a
família se encantou e, de pronto, o velho deu a palavra final aceitando a
proposta do comerciante. “É muita sorte um local como este estar sem caseiro!”,
comentou um dos filhos. Com efeito, pelo menos para quem não conhecesse mais
amiúde o local, tinha sentido semelhante observação. Até o limite do olhar
humano, fartura e beleza ressaltavam-se naquele local. A começar pelo viço da
horta, passando pelo pomar repleto de coloridas frutas, um riacho, de águas
límpidas, abalroado por carás, traíras, bagres, lambaris, piaus, piabas... e,
ainda, para diversificar qualquer cardápio, um imenso cercado de tela, tendo ao
centro um galinheiro, onde galinhas ‘caipira’ se misturavam às ‘D’Angola’,
patos, marrecos, perus. Um pouco mais distante, a sinuosidade das serras do
Alto Tinguá, tintadas pela Mãe Natureza nos mais variados tons de verde da Mata
Atlântica tinha encontro obrigatório com o magnífico azul do céu que, se durante
o dia ganhava claridade ao ser banhado pela luz do sol, durante as noites
despoluídas daqueles tempos, seu azul escuro profundo, contrastava com o brilho
ofuscante da luz das estrelas, lembrando uma abóbada aveludada sobreposta a um
punhado de cintilantes diamantes, evidenciando a grandeza insondável do
infinito. Mal sabiam, porém, que não obstante toda aquela magnitude, coisas
estranhas, muito estranhas, acontecia com frequência naquele distante pedaço de
terra. Coisas que acabaram por deixar perplexos os membros daquela prole
familiar.
-Eu era ainda uma criança quando fomos morar naquele sítio em Rio D’Ouro. Toda vez que me lembro desse episódio chego a ficar de ‘cabelo em pé’, conta Namiro com o dedo indicador apontado para os cabelos do antebraço que se encontravam arrepiado.
Pelo alvoroço dos cães ladrando no terreiro achamos que algum animal selvagem
houvera invadido o sítio. Meu pai sem perda de tempo carregou a espingarda de
calibre 12, com poder de fogo suficiente para derrubar um ‘dinossauro’ e ,
tendo eu e meu irmão a segui-lo, se dirigiu ao lugar da balburdia. De certo, fosse
qual fosse o invasor estaria em apuros,
até porque, o velho era considerado exímio atirador conforme ficara comprovado
tempos atrás nas matas de Minas Gerais, por isso mesmo imaginei que logo, logo,
o couro do bicho estaria esticado na parede, ou servindo de tapete no piso
tosco da sala a molde de decoração
Ao chegarmos ao local da algazarra verificamos que aos
poucos nossos cães foram se aquietando. Agora o alvoroço se dava no sítio ao
lado, e, os latidos vinham da matilha do vizinho, certamente a fera teria
ultrapassado os limites da propriedade. Mas como poderia, se a cerca que
limitava os dois sítios era, por assim dizer, uma extensa muralha de
intransponível espinheiral? Nada nem ninguém teria como transpô-la em curto período de tempo. Para intrigar,
ainda, mais nossas mentes, os cães do nosso sítio voltaram a atacar. A algazarra agora era alternada. Em
alguns segundos se dava em nosso território, em outros na propriedade ao lado.
Sob as ordens de papai nos acocoramos atrás de uns arbustos
e aguardamos que o motivo de toda aquela balburdia surgisse em nosso campo
visual. Para buscar mais precisão no momento do tiro, o “velho”, “descansou”
estrategicamente o cano da ‘12’ na forquilha de um arbusto, por trás do qual se
atocaiara e ficou pacientemente no aguardo. A sorte do bicho estava lançada! Já se iam alguns minutos, quando para nosso espanto, eis
que, surge bem a nossa frente uma figura do tamanho de um homem tendo a
cachorrada toda em seu encalço.
Ao determos-nos em sua silhueta e movimentos o
pavor tomou conta. Meu pai nem tanto, porém eu e meu irmão, sim! Aquela coisa
não era humana, também não poderia fazer parte da fauna do planeta. Fosse lá o
que fosse, deslocava-se saltitando propulsionado pelas patas traseiras e usando
as dianteiras somente como base, como um sapo. Papai fez pontaria e 'largou fogo'. Deu para ouvir perfeitamente o eco do tiro estrondoso no 'pé' de uma colina distante, fração de segundos antes de uma estranha cortina de fumaça envolver a todos.
Quanto ao bicho esse sumiu no meio da fumaça e aos poucos os cães foram parando de latir e o silencio voltou a reinar sem que encontrássemos uma explicação para o acontecido. Diante da escuridão intensa, nos restava voltar pra casa, deixando para o amanhecer do dia seguinte a procura de vestígios do animal, estivesse ele vivo ou morto. Uma coisa era certa para mim aquele bicho não era desse mundo. No dia seguinte procuramos em todos os quadrantes do sítio e nada encontramos...para mim aquilo era o tal do "Chupa Cabra", concluiu Ramiro com olhar de pavor.
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