A Última caçada de Seu Capichaba

Ruínas de Santana das Palmeiras - Cidade esquecida na Mata de Tinguá 

Por : Wandemberg 

SÉRIE : DE CERTA FEITA... 

A ÚLTIMA CAÇADA DE SEU CAPICHABA

 É amigo! Sou daqueles que não acreditam, em hipótese nenhuma, em assombração! Mas que elas existem, lá isso existem?! Principalmente nas florestas, na condição de guardiãs, coibindo o abuso dos invasores que inadvertidamente vão lá pra matar, desmatar, poluir ou pilhar. Se você parar algum dia para conversa com 'gente da mata', logo vai entender o que quero dizer. Seu Almir, lá de Tinguá,  é um desses. Almir já testemunhou acontecimentos fantásticos. Fatos que acabaram por demovê-lo das caçadas. Hoje é radicalmente contra, principalmente às esportivas! Em edição passada, escrevemos sobre um desses acontecimentos de ‘arrepiar’, que ele nos contou, sobre a surra recebida por dois caçadores, em plena mata do Alto Tinguá, aplicada(pasmem!) por seres invisíveis(em breve recapitularemos o episódio!). 

 O mesmo Seu Almir, me deu conta que, em outra oportunidade, ao subir a Serra dos Caboclos, com amigos para uma caçada, os cães que os acompanhavam, em determinado trecho do caminho, ficaram paralisados e visivelmente apavorados se negando terminantemente a continuar a subida, era como se tivesse uma barreira de seres invisíveis indicando a volta. Voltaram! 

 Outro acontecimento fantástico, o qual passarei a narrar na sequência, se deu com o Seu Capixaba, ex-caçador, que nos fala sobre sua última caçada. 

A ÚLTIMA CAÇADA 

Seu Capixaba

 De certa feita, Seu Walter da Silva, mais conhecido em Tinguá como Capixaba, dono do restaurante que leva seu nome(apelido), nos falou dos estranhos acontecimentos ocorridos em sua última caçada. Além de caçador de tiro certeiro, mateiro preferido dos biólogos e demais estudiosos para tê-lo como guia em suas incursões de estudo à floresta da Reserva Biológica do Tinguá, devido seu notório conhecimento e convivência - com a  Mata Atlântica - conhecimento esse que se estende desde o Espírito Santo até o Sul do Estado do Rio, Seu Capixaba tinha por hábito, quando entrava na Mata com o objetivo de caçar,  ir sozinho. Foi após uma dessas quando tinha apenas Deus, como companhia, que o experiente caçador encontrou forte motivo para 'pendurar', literalmente, sua espingarda, (para não dizer - "pendurar às chuteiras!") conforme veremos no texto abaixo, narrado pelo próprio "Mateiro"!.  

Cercado por centenas de Porcos do Mato
"Estava na época da procriação de porcos do mato e subi à Reserva Biológica do Tinguá, à procura de alguns. Por conta da longa espera, sem que qualquer um deles passasse pela trilha que vasculhava, já ia desistir quando dei de cara com um grupo dos animais pretendidos, do qual consegui catar dois filhotes. Ia tudo bem até que resolvi me apropriar de um terceiro. No momento em que acomodei este último no bornal em que estavam os demais, ele começou a gritar desesperadamente. Surpreendentemente, em fração de segundos, me vi cercado e acuado em uma pedra por centenas de porcos, que, ameaçadores, trincavam freneticamente às presas, produzindo um matraquear ensurdecedor, enquanto raspavam vigorosamente as patas ao chão levantando folhas, galhos e poeira, criando assim um grande reboliço. Estava armado com uma espingarda e um revólver, mas, não sei por que, não me senti com o direito de atirar. A única coisa que me veio à cabeça naquela hora, era que os componentes daquela ‘vara’ de porcos do mato, exigiam que eu soltasse imediatamente seus filhotes. Foi o que fiz! Ao devolvê-los, segundos depois, eles sumiram na mata como que por encanto. Para mim o acontecimento soou como uma mensagem da floresta. Naquele momento encerrei minhas atividades de caçador. Nunca mais dei um tiro em um bicho qualquer", conta Seu Capixaba!