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sexta-feira, 17 de abril de 2015

O Cão Chupando Manga

Por: Wandemberg
O Cão Chupando Manga
Esse ‘causo’ nos foi passado por Cici, meia atacante dos bons, hoje, com 71 anos, outrora um dos craques da saudosa equipe do Vila de Cava que, um dia qualquer dos ‘anos cinquenta’, caiu na besteira  de jogar contra o time no qual atuava um tal de Manoel – “O cão Chupando Manga” que embora só tenha entrado no segundo tempo do jogo, ‘massacrou’ nosso querido Vila.

Antigamente entre os idos dos anos 50/60 era hábito dos clubes de futebol amador, quando o campeonato da – Liga Iguaçuana de Desportos (Hoje Liga de Desportos de Nova Iguaçu) e outras ligas municipais, não estava em fase de competição, excursionarem para jogos amistosos em outras cidades do Estado, e, até em praças de esporte de outros estados como Minas Gerais e São Paulo. Assim sendo, famílias inteiras integravam as caravanas que chegavam a ser compostos por dez, quinze, vinte ou mais ônibus, alugados à base de rateios. Nos jogos em municípios vizinhos, na maioria das vezes, se ia em caminhões, pasmem! 

No ônibus da frente – mas conhecido como “Abre Alas”, invariavelmente uma faixa meio que folclórica era colocada na frente do radiador do veículo com dizeres mais ou menos assim –“A EQUIPE DO(...) SAÚDA O POVO E A IMPRENSA LOCAL E PEDE PASSAGEM”. Nas laterais  dos demais ônibus outras faixas,  cumprimentando, respeitosamente, aos adversários. No interior dos veículos uma cantoria só! Pandeiro e cavaquinho não podiam faltar!

E lá iam eles felizes para a partida emocionante chegando ao extremo de, para tornar apoteótica a chegada, soltarem, mal entrassem na localidade de destino, uma saraivada de fogos pelas janelas dos ônibus, provocando grande estardalhaço, e, muitas vezes, dado ao horário, acordando moradores da cidade, que também se sentiam eufóricos pelo evento enunciado. Pelo menos até a hora do jogo! Mas não se iludam! Quando a bola rolava o comportamento mudava ‘da água pro vinho’, dando lugar a animosidade. Muitas vezes no calor da disputa a ‘porrada estancava’ dentro do campo entre os jogadores, ou, fora dele entre os torcedores; indo muita gente parar na delegacia, que não raro resolvia o desentendimento sem que ninguém ficasse preso.

A EXCURSSÃO DO VILA DE CAVA
   De certa feita, o Vila de Cava F.C. que nos meados dos anos cinquenta tinha um timaço de futebol foi jogar em Raiz da Serra. Nesse dia, porém, não houve atritos a lamentar, o embate fora, mesmo, focado na bola. O Vila chegou para o encontro com sua força máxima. No gol Toninho (pai do ex-vereador Marcos Fernandes). Na zaga destaque absoluto para o center-hauffer Padilha; Cici  era o meia atacante; Neném exímio ponta direita; Heraldo; Carvalhal; Nilton Meleca e o maior de todos - o finado Moisés Sem Braço, assunto, até hoje, dos comentaristas de última hora  em Cava.

   O primeiro tempo houvera sido emocionante. Moisés que não tinha um dos braços, já houvera balançado a rede adversária três vezes . O diabo era que a equipe do Raiz da Serra, que também era muito boa, empurrara quatro bolas na rede do arqueiro Toninho. Mas, não havia de ser nada, os jogadores do esquadrão do Vila de Cava estavam certos da vitória . Virar o placar adverso seria, apenas, uma questão de tempo.

   Durante o intervalo, um 'zum zum zum' entre os torcedores local, aguçava a curiosidade do ‘povo’ visitante. Na iminência dos visitantes, virar o placar, a torcida local pedia em coro a entrada de um tal de Manoel! “Manoel, Manoel, Manoel...Queremos Manoel”. 
  “Deve ser o Manoel da Padaria local”. “Todo lugar tem um Manoel da Padaria”. Desdenhou a título de gozação um torcedor do Vila, morador da rua Helena.

  Quando o Raiz da Serra FC voltou do vestiário para o tão esperado segundo tempo, o tal Manoel veio pro jogo, arrancando efusivos aplausos de sua galera. Ao observar melhor o tal Manoel, logo os atletas e torcedores  do Vila perderam o medo, pois tratava-se de uma figura bastante bizarra. Ao arriscarem uma breve comparação entre seu craque Moisés, que já fizera três gols naquela memorável partida, e, o empenado que acabara de entrar sob o delírio de sua torcida, lhes parecia óbvio que o Vila tinha tudo pra ganhar o jogo. O craque do Vila não tinha um braço, mas, pelo menos estava no prumo. Já o Manoel era todo torto mais parecia um arco. Sua perna esquerda era arqueada pra dentro, já a direita pra fora. Não lhes parecia que o torto pudesse, sequer, correr, muito menos, jogar futebol!

Na verdade o pessoal do Vila de Cava só pode entender a euforia da torcida da casa pelo atleta empenado, com o desenrolar da partida em seu segundo tempo. O jogador torto, mais parecia um furacão!  Jamais os excursionistas do Vila de Cava poderiam supor em ver coisa igual! Para Início de conversa ninguém conseguia tirar a bolo de seus pés, e, os gols foram se sucedendo em favor do Raiz da Serra, um após outro. O tal do Manoel desdenhado por torcedores do Vila, na verdade, podia ser considerado “O Cão Chupando Manga”. Era só o juiz dar nova saída para o Manoel fazer outro gol. No final o jogo acabou 14X4 com 10 gols assinalados pelo torto.

Nota da Redação: O Manoel que 'acabou' com o Vila de Cava, naquele domingo sombrio para a torcida iguaçuana,  se tornou um dos Deuses do futebol mundiaL, ficando conhecido, simplesmente, como: Mané Garrincha o “GÊNIO DAS PERNAS TORTA".

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