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sexta-feira, 31 de julho de 2020

A origem de Nova Iguaçu


A origem de Nova Iguaçu
Por: Wandemberg

"No princípio era Freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Iguassú...depois passou a se chamar Vila de Iguassú ... virou Maxambomba ...hoje é Nova Iguaçu!"  
     Penso que para falar do surgimento de Nova Iguaçu, esse município fantástico que entre outras coisas abriga um dos 'biomas' de Mata Atlântica mais bem preservado do país, se faz necessário fazer um comentário, mesmo que breve, sobre o - Rio Iguassú - que nasce nas Serranias de Tinguá e vê o fluxo de suas águas se juntar às águas salgadas da Baía de Guanabara, lá pelas bandas de Caxias (município que já fez parte de Nova Iguaçu, porém foi um dos primeiros a emancipar-se (1943), passando  ser "cidade"). Se faz necessário, ainda, dizer que este Rio, no passado, foi a primeira 'estrada' para se chegar, no menor período de tempo possível, à área geográfica que hoje chamamos de Nova Iguaçu. Além do mais, eram por suas águas que iam e vinham insumos e mercadorias, de toda ordem, no trânsito em direção ao Rio de Janeiro e, em direção oposta, ao interior, e, ainda, para alguns outros estados do Brasil.
    Outro detalhe que poucos sabem: No princípio o Rio Iguassú era bem mais largo. Em seu leito sinuoso, suas águas  serpenteavam, pacientemente, no trajeto em direção ao oceano. Jacob Conrad Niemayer (engenheiro militar), o mesmo que foi responsável pela construção da Estrada Real do Comércio (primeira estrada para transporte de grãos no Brasil) foi chamado pelo Governo para dar um jeito de aumentar o volume das águas desse Rio, com o fito de facilitar a navegação. Assim, o eficientíssimo engenheiro, cumpriu galhardamente a missão ao juntar as águas dos Rios Utum e Tinguá ao Rio Iguassú. Logo logo, o referido Rio passou a receber em seu leito embarcações de considerável "calado" e com autonomia para navegar, ainda, pela Baía de Guanabara, fazendo 'parada' em seus portos, preferencialmente, aportando no 'Porto da Prainha', na cidade dita "Maravilhosa!". 
      
             SUAS TERRAS
      Em terras pertencentes à Capitania de São Vicente, surgiram Freguesias (a molde de Portugal) aqui na região, hoje, conhecida como Baixada Fluminense, sendo a de Nossa Senhora da Piedade do Iguassú, criada em 1719, a mais importante de todas. Era conhecida, ainda, como Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Caminho Velho, devido ao fato de suas terras se estenderem até às "Minas Gerais". Quando Tiradentes veio para a côrte no Rio de Janeiro  para ser julgado e posteriormente condenado e enforcado, foi por este caminho que foi conduzido. 
         VILA DE IGUASSÚ
     Mais 'tarde', lá pelos idos do século XIX, mais precisamente em 15 de janeiro de 1833, em razão da acentuada prosperidade, a Freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Iguassú, foi elevada a categoria de Vila, com o nome de Vila de Iguassú, tendo sido instalada em 27 de julho do mesmo ano e passando a ser sede de um município composto por, além da Vila de Iguassú, pelas Freguesias de Inhomirim, Pilar, Santo Antônio de Jacutinga, São João de Miriti e Marapicu. Entretanto, devido às reações de parte de algumas outras Freguesias cujos políticos enciumados reivindicavam para as Freguesias as quais representavam o direito que foi concedido à Nossa Senhora da Piedade de Iguassú, essa freguesia perdeu, momentaneamente, às prerrogativas de 'Vila' pela Lei Provincial de 13 de abril de 1835. Os habitantes locais não se conformaram e voltaram a lutar, tendo seus esforços recompensados com a aprovação definitiva, e, a Freguesia  voltou a ser Vila, com a renomeação de "Vila de Iguassú", agora, sim, sede da área que viria a se chamar um dia Nova Iguaçu.
         Diante do novo 'Status', de sua privilegiada localização ao lado direito do Rio Iguassú, caminho aquático que a partir da Baía de Guanabara dava acesso àquela Vila, e tendo, ainda, o ponto inicial da Estrada Real do Comércio (a primeira estrada para transporte de grãos do Brasil) bem no coração de seu mapa, não poderia haver outro desfecho a não ser o significativo e acelerado progresso que se deu naquela localidade. O fato é que, em breve período de tempo, a Vila, além da sua autossuficiência produtiva, passou a ser considerada, ainda, uma das mais destacadas mantenedora agrícola da Cidade do Rio de Janeiro. Mas, não ficou só nisso, além da agricultura, ganhou desempenho outros setores de atividades local, traduzidos no surgimento de:  fábricas de móveis, bares, hotéis, fórum, delegacia, cadeia pública, olarias, câmara de vereadores,  cartório, e outras necessidades inerente a uma verdadeira cidade. 
   
      Entre burros, barcos e trens!
    Há, ainda, que se considerar como um dos principais fatores que muito ajudou a levar Nossa Senhora da Piedade de Iguassú a se destacar em relação às demais Freguesias, o fato de neste local se dar uma interessante conexão entre o transporte fluvial/marítimo e, o tosco transporte executado em lombo de burros conduzidos por 'Tropeiros'. Eu explico! As mercadorias chegavam do interior aos portos do Rio Iguassú, com destino ao Rio de Janeiro, via Estrada Real do Comércio, após cruzar às serranias do 'Alto Tinguá' (Serra de Santana, Serra dos Caboclos e Vera Cruz). Tais encomendas eram remetidas de diversos lugares e vias: Cidades e municípios de Minas, Goiás, São Paulo, e, tantas outras localidades; muitas delas, vindas pelo Rio Paraíba do Sul, sendo repassadas para os tropeiros. Assim, nos Portos do Rio Iguassú, os 'tropeiros'' deixavam as mercadorias em armazéns para que elas fossem 'romaneadas' e transportadas por embarcação fluvial/marítima com destino ao Rio de Janeiro. Em sentido contrário, quando as mercadorias vinham do Rio de Janeiro em direção ao interior, eram as embarcações que traziam as mercadorias para os portos do Rio Iguaçu( esse rio tinha 9 portos), para dali serem levadas aos destinatários no interior, em 'lombo dos burros'.  👈

              O Retrocesso da Vila
Porto do Iguassú
   Tudo ia muito bem naquela Vila:  Seus portos, o Rio Iguassú, a produção agrícola, o comércio... Porém no ano de 1891, no final do Século XIX, com a inauguração da Estrada de Ferro Dom Pedro II, que ia de Pouso dos Queimados até a Central do Brasil, tudo mudou de forma considerável. 
    Doravante, o transporte em tropas de burros perdia espaço de Pouso dos Queimados para 'baixo',  para o, então, revolucionário 'trem à vapor', onde, em seus amplos vagões de carga, as mercadorias, em grandes volumes, eram acomodadas e rapidamente transportadas. O novo transportador, por razões óbvias, não precisava se submeter à lenta transposição das Serras em direção aos Portos do Rio Iguassú, como era o caso dos tropeiros e suas tropas de burros, fato este que permitia que etapas fossem eliminadas. Tampouco, 'perdia-se tempo' com as mercadorias sendo guardadas em armazéns à espera de embarcações, posto que, agora, o trem recebia  às mercadorias do lado contrário das serranias, sem que houvesse necessidade de atravessá-las, nos lombos dos burros, para  embarcá-las nos portos do Rio Iguassú. Simplesmente, já saiam direto para o Rio de Janeiro, ademais, em suas rodas de aço sobre trilhos, o novo meio de transporte, seguia o itinerário onde predominavam às  linhas retas, chegando rapidamente ao destino no Rio de Janeiro, ou, em direção contrária a Pouso dos Queimados, onde, aí sim, os tropeiros assumiam o transporte das mercadorias com destino ao interior.  
   Maxambomba uma nova realidade
   Para falar a verdade, o advento do trem na Estrada de Ferro Dom Pedro II, se de um lado promoveu com acentuada rapidez o progresso de um modesto arraial, onde havia um Engenho de Açúcar, por outro lado, praticamente, decretou o "Estado de Falência" da Vila de Iguassú: limitando, sobremaneira, o transportes em tropas de burro e a navegação fluvial/ marítima no Rio Iguassu. Com isso a Vila reduziu acentuadamente seu movimento. Como se não bastasse, problema ainda maior teve lugar naquela, até então, próspera localidade. A falta de embarcação que antes, entre outras coisas, serviam para 'chacoalhar' às águas, permitiram que as águas do Rio Iguassú se tornassem quase totalmente paradas, formando criadouros de insetos e, como consequência, uma terrível epidemia (Cólera Mórbus) dizimou grande parte da população dentre os que não conseguiram fugir à tempo em direção à outros arraiais, como por exemplo: Maxambomba, Santana das Palmeiras, ou outras localidades distantes do Rio infectado. A Vila repentinamente, se tornou uma localidade bucólica!  
      Para acabar com a 'mosquitada' no Rio Iguassú, o governo foi obrigado a se valer de uma sofisticada, pra época, obra de dragagem com o objetivo de dar velocidade ao fluxo das águas, priorizando o estreitamento e eliminando suas continuadas curvas, dando ênfase, assim, às linhas retas, transformando o Rio Iguassú, praticamente, em um canal para dar mais velocidade a água, para que ela não mais se acumulasse. Resultado: O Rio Iguassú, hoje, pode ser considerado um 'canal'. 
  O Trem
     Com o trem: outras estações, novos bairros, redes de comércio,  e um grande número de iniciativas pras 'bandas' da Serra de Madureira, onde uma 'estação de trem', dado à sua posição geográfica, passou a chamar a atenção pelo acentuado crescimento no seu entorno: "Maxambomba", que nascera para ser um 'Engenho de Açúcar, 'do dia pra noite', ganhou notoriedade ao passar a ser uma "Estação de Trem",  tomando a frente do progresso na orla da recém inaugurada ferrovia e credenciando-se, assim, a ser a sucessora da Vila de Iguassú. Mediante à nova realidade, Maxambomba foi elevada à categoria de Vila, e, por conseguinte, sede do município, em 1 de maio de 1891. No mesmo ano, em 19 de junho, foi agraciada com 'foros' de Cidade, passando em 9 de novembro de 1916 a denominar-se Nova Iguassú (com dois esses), algum tempo depois Nova Iguaçu (com cedilha). 


Um comentário:

Blog do Alcy Maihoní disse...

Bonito o histórico!
Como bem diz o hino da cidade...Terra linda e encantadora, Desde os tempos de outrora.