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quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Ney Alberto o inesquecível Avatar


 

Ney Alberto o inesquecível Avatar

Por: Wandemberg
   De certa feita, lá pelos anos 60 , para que pudéssemos fazer o ginasial (eu e mais cinco irmãos), meu pai alugou uma casa, em uma avenida, próximo ao centro de Nova Iguaçu, na antiga Rua Treze de Maio (hoje, Luiz Guimarães). Em Miguel Couto onde morávamos só havia nas escolas o curso primário, daí o ‘velho’ chegar à conclusão que ficaria mais barato pagar aluguel do que passagens de ônibus (naquele tempo não havia, ainda, a gratuidade para os estudantes). A ideia era, nos finais de semana, voltarmos para a casa que ficou vazia em Miguel Couto para ‘matar’ a saudade do local onde nascemos, regressando na segunda- feira enquanto a vida seguia seu curso... 
 Em Nova Iguaçu fui estudar no Colégio Afrânio Peixoto, onde vi pela primeira vez Ney Alberto que, um dia, entendi tratar-se de um 'AVATAR'. Era hora do recreio e, ele, conversava, animadamente, com o diretor - o saudoso professor Ruy Afrânio Peixoto e com outro homem que tinha os olhos rasgados como um oriental. Mais tarde, fiquei sabendo tratar-se de Waldick Pereira, talvez o maior parceiro de aventuras do Ney. 
   
    Atrapalhando à 'pelada' na Treze de Maio
    A segunda vez que o vi, foi nas proximidades da nova residência na Rua Treze de Maio. Eu, que sempre ‘falei’ razoavelmente bem o ‘idioma da bola’, não tive dificuldade para me enturmar com os novos amigos e jogar na ‘pelada’ que havia diariamente na rua. Numa dessas, no auge da 'correria',  um dos componentes deu a célere ordem de ‘parar a bola’, como era praxe quando vinha alguém passando... De pronto reconheci o passante. Era a mesma pessoa que participara do papo a três no Colégio. Naquele momento fiquei sabendo que o professor Ney Alberto viera à casa de Waldick que, coincidentemente, era meu vizinho. Vez por outra Ney Alberto ia lá à ‘minha rua’ visitar Waldick. Chegava, sumia na avenida onde morava seu amigo, e, depois saiam os dois conversando de tal maneira absortos pela conversa que mal se davam conta do que se passava ao redor. Eram vistos por uns como super heróis (eu me enquadrava nesse grupo), por outros, os mais ajuizados, como dois malucos que, entre outras coisas, desafiavam as matas das serranias do Tinguá.
    O tempo passou, inexorável, como sempre, e  a compulsão em fazer jornal me tomou. Um vício do qual não pretendo me abster, diga-se:  Primeiro foi a Tribuna de Miguel Couto; depois  foi o Expresso Esportivo; aí  veio a Folha do Iguassú, e agora estou às vias de inaugurar um outro, não mais em 'papel jornal', mas, em forma de site, que já tem até nome: Nova Iguaçu & Adjacências, posto que, me parece, que mediante a concorrência do computador, do celular e da televisão, o jornal vendido nas bancas  se encontra em fase de extinção.
   
       Me apresentando ao Ney
       Três anos atrás e cerca de cinquenta anos após vê-lo pela primeira vez, resolvi visitar Ney Alberto na Casa de Cultura onde trabalhava, para conhecê-lo (de fato) e apresentar meu jornal da época. A essa altura, eu mesmo, já escrevia na ‘Folha do Iguassú’ sobre a história da Baixada com matérias compiladas de um site que narrava informações fornecidas pelo próprio Ney e por outros historiadores. Quem diria? Encontrei-o ‘catando milho’ numa antiga Olivetti mecânica. Quem visse a cena e não soubesse de seus predicados, jamais poderia supor se tratar de um gênio. Arrisquei convidá-lo para escrever coluna no jornal, na condição de colaborador, e, para minha surpresa, aceitou de pronto. Bendito momento! 
  Agradecido, generoso e prático - quando já fazia um ano e pouco que Ney escrevia na Folha, chegou para mim e disse que iria receber uma indenização a qual usaria para publicar um livro, com matérias curtas e sem sequência, que serviriam, inclusive, para que eu as usasse para publicar no jornal, a meu bel-prazer, e, que queria, ainda, me dar coautoria na obra. Agradecido, alegava que antes de escrever na Folha andava meio desmotivado e após ter sua coluna no nosso jornal readquirira o entusiasmo dada a repercussão obtida.  Não só recusei como fiz ver a ele que, se alguém devia alguma coisa ao outro esse alguém era eu, não ele. Nesse momento passou-me às mãos a brochura do livro com  dedicatória à minha pessoa, um tesouro que usarei em seu nome, para mostra seu trabalho e a verdadeira história da Baixada Fluminense às próximas gerações, se Deus assim o permitir!
     Uma 'Figuraça'
   O Ney era uma ‘figuraça’, uma vez, a título de provocação, pedi o número de seu telefone celular. Prá que? A resposta veio como um ‘tiro’: "Se me ver algum dia com telefone celular enfiado na orelha manda botar Camisa de Força porque estarei maluco". Ney, também, não usava computador, não gostava de dirigir carro e da maioria das coisas que pudesse ser considerada consumismo compulsivo...
   Dois ou três meses após seu falecimento em junho de 2012, a viúva Dona Ana, com o apoio do Juiz da sétima vara da família Dr. João Damasceno, 'lançou' um livro, deixado em brochura por Ney Alberto, no saguão principal do Fórum de Nova Iguaçu - DEUS NOS LIVRE DA POLÍTICA DE IGUASSÚ. Era o tal livro que Ney, gentilmente, queria me conceder coautoria, e que eu não aceitei por não achar justo. 
  Fui convidado e compareci, era um sábado, mas devido se tratar de um motivo histórico para Nova Iguaçu havia muita gente, ainda mais que, o Estado do Rio de Janeiro se aproximava de mais uma eleição para Prefeitos e Vereadores e os candidatos estavam em plena campanha, assim compareceram ao ato os candidatos à Prefeito por Nova Iguaçu: Nelson Bornier e Sheila Gama, num local onde foram estabelecidas filas para que pessoas se apossassem de um exemplar do livro com assinatura de Dona Ana(viúva). Foi aí que tive a maior surpresa da minha vida, quando localizei na sétima página do livro, intitulada " Ao Leitor " uma homenagem de página inteira à minha pessoa. Amigo, quase pirei de emoção!
  Ney Alberto, na minha maneira de ver, foi um homem que não passou pelo planeta em vão, em sua trajetória, deixou, isto sim, um vasto legado para o povo da Baixada Fluminense.
                                                Para mim o Ney era um AVATAR!

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