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sexta-feira, 16 de outubro de 2020

VIAGEM ÀS RUÍNAS DA CIDADE ESQUECIDA NO ALTO TINGUÁ

 Por: Wandemberg


De certa feita ao ler um artigo escrito por Ney Alberto, tomei conhecimento da existência das ruínas de um arraial pertencente à Vila de Iguassú (hoje Nova Iguaçu), que estaria localizado em algum ponto dos 26.000 hectares da Reserva Biológica do Tinguá. Segundo o historiador, a Freguesia de Nossa Senhora de Santana das Palmeiras alcançou seu apogeu no final do século XIX. Soberana no alto da serra, tinha clima ameno e era considerada uma espécie de Petrópolis Iguassuensse, onde os nobres da corte, comerciantes e detentores das benesses do Império veraneavam. Além disso, por estar localizada às margens da Estrada Real do Comércio era parada obrigatória para tropa de muares e tropeiros, que traziam grãos, gado e outras mercadorias vindas do Alto Paraíba, com destino parcial aos portos do Rio Iguassú, onde seriam transferidas em embarcações para a Província do Rio de Janeiro.
Com o passar dos dias minha curiosidade para obter mais informações sobre aquela cidadezinha esquecida pela história aguçou e se transformou numa tremenda compulsão. Cada vez que olhava para as serras que compõem o aglomerado de protuberância do Alto Tinguá, uma pergunta surgia de pronto. Onde estará o que sobrou da Freguesia de Nossa Senhora de Santana das Palmeiras que em tempos passados fora a majestosa princesinha iguassuense? Como fazer para visitar suas ruínas? Procurá-la, seria como procurar “agulha no palheiro”!
Em verdade quase ninguém tinha conhecimento da existência da Freguesia, tampouco sabia informar como chegar às ruínas.
Um dia, porém, ao tomar cerveja num bar em Tinguá escutei uma conversa entre duas pessoas que tudo levava a crer serem caçadores. Falavam a respeito das ruínas de uma igrejinha e de um cemitério, cerca de 1.110 metros de altitude Estrada Real do Comercio, acima. Era ela! Só podia ser ela, a magnífica estrela de primeira grandeza dentre as freguesias que formaram um dia a Vila de Iguassú. Daquele momento em diante ao invés de procurar pela Freguesia de Nossa Senhora de Santana das Palmeiras (que ninguém conhecia), passei a procurar, tão somente, pelas ruínas da igrejinha ( que alguns sabiam da existência). Logo comprovei com o pessoal do IBAMA que, Santana das Palmeiras e as ruínas da igrejinha, se tratavam da mesma coisa, conforme passei a desconfiar após ouvir a conversa dos supostos caçadores!

EM BUSCA DA CIDADE ESQUECIDA
Em dezembro de 2005 consegui pegar uma carona numa viatura de inspeção do IBAMA e finalmente chegar aos “pés” das ruínas.
Elton era quem dirigia Estrada Real do Comércio acima, a pick-up Toyota, com tração nas quatro rodas, forte que só um tanque das “Divisões Panzer”. Além do motorista, de Marcio das Mercês, tinha ainda como passageiros, Cosme, então presidente da Ong Ehren, Zazá e Renato, que a exemplo de Elton faziam parte de um grupo de voluntários do IBAMA (hoje Instituto Chico Mendes).
O cenário que se descortinava aos nossos olhos era deslumbrante. Diante de tantas belezas a própria palavra beleza e suas congênere perdiam sentido. Daquele momento em diante, nascia em mim a certeza que uma nova palavra precisava ser inventada, somente, para descrever os encantos da REBIO TINGUÁ. Como paliativo já havia sido inventada a máquina fotográfica digital. Pelo menos guardaríamos no papel as imagens registradas, mas como registrar a fragrância exalada pela orquídea baunilha que, de forma inebriante, perfumava o ar?
Finalmente deparamo-nos com o que restou da cidade esquecida. Pura emoção, até o pessoal do IBAMA, afeitos aquelas imagens, ficou estático por breves momentos em singela reverencia às ruínas . Era como se estivéssemos diante de uma Divindade. Reinava um silencio profundo. Os próprios pássaros ruidosos como “só”, pareciam ter ficado em silêncio para celebrarem o encontro. A moribunda torre do sineiro da igreja ainda guardava um “Q” de “Majestade” passando-nos a impressão de insistir na vã tentativa de sobrepor-se a copa das árvores. Passados os segundos de ‘êxtase’, o comportamento do grupo voltou ao normal e o som do silêncio absoluto deu lugar ao som passível de ser aferido em decibéis, até os pássaros voltaram a gorjear!

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