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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Grande Marcha do Bichos



De: Wandemberg
Obra de ficção qualquer semelhança com pessoas bichos, governo Lindberg Farias, cidade, terá sido mera coincidência, mas só até certo ponto! 
Série - "De certa feita" - apresentada mensalmente no jornal Folha do Iguassú à venda nas principais bancas do Município

De certa feita, à sombra da madrugada, bichos se reuniram em assembléia numa área deserta da periferia. No final do conclave ficou deliberado, o seguinte: Uma grande marcha pelas principais ruas do município, indo ter ao paço da prefeitura haveria de colocar as coisas no seu devido lugar e demonstrar a toda a população, fosse lá de que gênero do reino animal  fosse, a inferioridade da política adotada ultimamente. 

Já há algum tempo um clamor animal contra a prefeitura tomava forma em todo município. Tal “estado de coisa”, bem que poderia ser evitado antes do governo começar a cobrança de IPTU, taxa de iluminação pública, taxa de lixo para casinhas de cachorro, galinheiros e chiqueiros. Contra a governância pesava ainda o agravante de cães sem dono, famintos e totalmente desasistidos, perambularem pelas ruas sem que o Centro de Zoonose tomasse qualquer medida. Urgia uma atitude!

No dia e hora marcados, de quase todas as residências do município, bichos pulavam cercas e muros aliando-se ordenadamente na verdadeira procissão formada em cada rua, desembocando posteriormente nas principais Estradas e Avenidas, ganhando formas imensuráveis, em direção à prefeitura. Eram aos milhares! Haviam, inclusive, uns poucos homens solidários (nenhum, entretanto, da Sociedade Protetora dos Animais, tampouco religiosos!).

Uma vez no pátio da Prefeitura, o interlocutor de campanha, um papagaio falante, provocantemente, arrancava dos manifestantes palavras de ordem, onde bichos eram enaltecidos e o governo depreciado. Líderes de várias regiões usaram à palavra até que o momento mais aguardado teve anúncio na voz embargada pela emoção, do tal papagaio que não se fez de rogado em esgoelar-se de forma cinematográfica, abusando dos “esses” e “erres” para anunciar o discurso do grande líder daquele movimento. Foi pena pra todo lado! 
"Curupaco! Curupaco! Curupaco!" - 'falou' no meio das penas esvoaçantes, a ave locutora.
"Senhorrrresssss bichossssss revolucionárrrrriosssss do nosso mui amado município, com a palavrrrrrrra o grande líder Snoopy!".
Um momento de histerismo se apossou da turba irada levando-os ao delírio, num coro heterogêneo de latidos, miados, mugidos, grunhidos, gorjeios, rinchos, grasnos, pios e outras formas de expressão animal. 

Com a altivez e o garbo de um herói Snoopy se apresentou trazendo no topo da cabeça, erguida orgulhosamente, a boina tipo “Che Guevara” que lhe caía tão bem, tendo, ainda, a completar-lhe a indumentária uma túnica militar em verde profundo, onde em cada dragona franjada com esmero luziam dezenas de estrelas em metal dourado para registrar, não se sabe ao certo, qual patente. A refulgir-lhe ao peito, teatralmente, projetado para frente e para o alto, o brilho de medalhas muito bem polidas que, dado a grande quantidade, não dava para contar, tampouco, dizer do mérito representado por cada qual. Pena, que abaixo da linha da cintura depunha contra si o fato de, estar sem calças, com a bunda toda de fora! No mais tudo bem! Tão logo a platéia fez silêncio o cão iniciou sua fala:

"Au! Au! Au! Grsrsrsr! Senhores, ao contrário do esperado, não vamos falar das nossas diferenças com o governo no que tange aos malgrados carnês de IPTU. De nada adiantaria, posto que somos considerados irracionais, e, o 'Homem', em sua arrogância, ainda não está preparado para entender-nos, porque não entendem a natureza! Não entendem nem ao próprio 'homem'. Assim sendo, não podem perceber o sofrimento de cães abandonados a invadir latas de lixo na cruel aflição da fome. Sequer entendem o infortúnio de criaturas do seu próprio gênero a disputarem conosco essas mesmas latas de lixo, para encontrarem os restos de comida que irá lhes saciar!
O que esperar de governos que desviam verbas públicas de hospitais, postos de saúde e até da Previdência de seus funcionários, condenando ao sofrimento seus próprios irmãos humanos? Nem os animais selvagens que, vivem nas florestas inóspitas e, só matam para comer, cometeriam tamanha atrocidade!".
"Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! (...)!"
Gritaram uma jaguatirica, uma paca, um tatu e três gaviões. Únicos representantes dentre os animais silvestres - vindos    prestar solidariedade aos domésticos - representando os demais moradores da Reserva Biológica do Tinguá. Chegaram por via aérea, graças às 'caronas' concedidas pelos solícitos gaviões! 

O discurso mal começava a ganhar força, quando vândalos vindo de favelas de outro município, em ônibus especiais alugado pelo próprio prefeito, começaram a dispersar a turma na base da cacetada. 
A bicharada “meteu o pé”, ou melhor, a “pata” na estrada. Foi parar bicho, até no cemitério ao lado!

Meses depois SNOOPY apareceu, pela primeira vez, após os lamentáveis acontecimentos do fatídico “DIA DA GRANDE MARCHA”. Ainda enfaixado com gaze pra todo lado, e, escorado em um par de muletas, deu depoimento à imprensa alternativa.
-Entramos na porrada (...), disse!

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