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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

"O Rio de Janeiro civiliza-se". Essa era a manchete dos jornais em 1851, quando a empresa de Irineu Evangelista de Souza, o futuro barão de Mauá, trocava os lampiões públicos de azeite de peixe por bicos de gás, e iniciava em seguida a construção da primeira ferrovia do Brasil, inaugurada em 1854, com destino a Petrópolis. As primeiras linhas de bonde puxado a burros eram instaladas nas Laranjeiras, dando início aos transportes coletivos da cidade. D. Pedro II chegando de uma exposição em Filadélfia em 1876 trazia consigo um aparelho telefônico presenteado por Grahan Bell, início dos serviços telefônicos que aprovados, foram instalados nas estações ferroviárias da Estrada de Ferro D. Pedro II, numa extensão de 70 km a partir do campo de Sant`Ana. A inauguração dos cabos submarinos telegráficos para a Europa foi um acontecimento que colocava o Rio de Janeiro entre as cidades mais progressistas do mundo, durante aquela segunda metade do século XIX.
 Entretanto, a água ainda não havia chegado às torneiras do carioca. Carregada em barris e latas na cabeça dos escravos, vendidas de porta em porta, era colhida em alguns chafarizes das esquinas, que ainda mantinha o hábito nos hotéis e residências, das pequenas bacias e jarros de louça com água nos quartos, para a lavagem do rosto e "adjacências".
Era necessário urgentemente resolver o abastecimento de água na cidade. O empreiteiro Antônio Gabrielli, que trazia como carta de recomendação o trabalho de abastecimento feito em Viena, de "duas cartas de crédito de 50.000 libras cada uma", ganhou "a concorrência que compreendia a captação da água na Serra do Tinguá", na Baixada Fluminense, aberta pelo governo imperial.
    Desde 1870, o engenheiro Antônio Rebouças visitando essa região, havia indicado os mananciais do Rio D’ouro e da Serra do Tinguá, para o abastecimento da cidade. Em um relatório datado desse ano,“aquele notável engenheiro, também indicava a necessidade de ser construído um reservatório com 100 milhões de litros de capacidade, implantado no centro da cidade”.
Sentiu-se logo a dificuldade para o transporte dos tubos de ferro que chegariam da Inglaterra em busca daquela fonte, onde a água seria recolhida em grandes reservatórios e conduzida aos menores, para serem distribuídas na Cidade. Uma estrada de ferro seria a solução. Foram importados também trilhos, locomotivas e demais materiais ferroviários para a grande empreitada.
Estávamos em agosto de 1876. Ergueu-se na praia do Caju "uma ponte sobre estacas, com guindastes para o recolhimento do material chegado por via marítima". Os trilhos foram assentados em direção ao subúrbio de Benfica, Manguinhos, Rua da Alegria, paralela à estrada Real de Santa Cruz em um trecho mais tarde denominado de Suburbana. Na estrada da Pavuna, hoje Automóvel Clube, corriam os trilhos em direção àquele lugarejo para alcançar a estrada da Polícia, onde seriam assentadas suas linhas até Engenho do Brejo, hoje Belford Roxo. O segundo trecho seguia até os mananciais do Rio d'Ouro, perfazendo um total de 53 km. Estava assentado o tronco básico para conduzir o abastecimento de água ao Rio de Janeiro
 Sucessivamente foram captados os rios São Pedro, Santo Antônio e o rio D’ouro, cujas obras de adução ficaram prontas em 1880. Ao término desse trabalho, foi entregue também o reservatório do Pedregulho, com capacidade de 74 milhões de litros, mas, apesar de todo esse esforço de abastecimento, com o aumento da população, sobreveio uma grande seca nos últimos anos do reinado de D. Pedro II, causando o episódio conhecido como “água em seis dias”, comentado em outro capítulo deste resumo.

 

          TRANSPORTE DE PASSAGEIROS                     

Somente em 1883, em caráter provisório, começaram a circular os primeiros trens de passageiros que partiam do Caju em direção à represa do Rio D’Ouro.
    A Baixada Fluminense seria mais tarde dividida em três sub-ramais: Ramal de São Pedro, hoje Jaceruba; ramal de Tinguá, que se iniciava em Cava (Estação José Bulhões); e o ramal de Xerém, partindo do Brejo, hoje Belford Roxo.
    Em 1896, época que os trens de passageiros passaram a circular com maior regularidade partindo do Caju, atravessavam a Rua Bela, Benfica etc. até passar por Irajá em direção a Pavuna.
    Nesta estação, última parada antes de adentrar a Baixada, via-se o antigo canal onde ficava o porto rodeado de trapiches, outrora pertencentes ao comendador Tavares Guerra. Próximo a ele, uma estátua de ferro em forma de mulher, oferecia água aos passantes através de um cilindro chamada de: “Bica da Mulata”, resultado da “sangria” que se fazia na tubulação.
    Nas terras de Meriti, os trilhos foram assentados sobre a antiga “Estrada da Polícia”, que partindo da Pavuna, ia encontrar-se com as terras de “Iguassú”, em continuação à estrada que, vindo da Corte, finalizava em Rio Preto. A próxima estação era:
 Vila Rosaly, que substituiu a “Parada Alcântara”, e homenageou a esposa do Dr. Rubens Farrula, proprietário da Empresa Territorial Lar Econômico, loteando as terras denominadas “Morro da Botica” ou dos “Barbados”, em referência aos pastores israelitas que residiam próximo ao cemitério dessa comunidade e usavam barbas longas.
    Agostinho Porto – Justa homenagem a Agostinho de Castro Porto, chefe da 4ª. Divisão da Inspetoria de Águas, que ali implantou um pioneiro loteamento denominado “Vila Agostinho Porto”, com lotes quase todos vendidos no primeiro ano, “por ser lugar aprazível”..   
                   Coelho da Rocha – recebeu o nome do proprietário dessas terras, Manoel José Coelho da Rocha, que as cedeu para a passagem dos trilhos e colocação dos dutos, lutando posteriormente para sua transformação em transporte de passageiros. Seu neto Almerio Coelho da Rocha, herdeiro do que sobrou da antiga fazenda criada por Christóvão Mendes Leitão em 1739, desfez-se dela, vendendo-a para loteamento.
    Belford Roxo – Antiga fazenda do Brejo e anteriormente Calhamaço, lembrando o antigo canal do calhamaço aberto pelo Visconde de Barbacena (seu antigo proprietário), e que formava um braço do Rio Sarapuy. Sua estação recebeu este nome em homenagem a Raimundo Teixeira Belford Roxo, chefe da 1ª Divisão da Inspetoria de Águas. Havia em frente a esta estação um artístico chafariz de ferro jorrando água, que o povo denominou de “Bica da Mulata”, cuja figura mitológica de uma mulher branca sentada sobre um cilindro, oferecia aos passantes o líquido precioso, que a oxidação do ferro transformou em “mulata”. Cópia da estátua outrora existente na Pavuna. Próximo a estação ficava situado o loteamento “Bairro Sublime”, “recanto salubre do Parque Coelho da Rocha divididos em lotes de dez por cinqüenta metros. 

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