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sábado, 18 de maio de 2013

O vagabundo da fábrica de automóveis




Da série: De certa Feita...
Por: Wandemberg
De certa feita, no início do século XX, tudo ia muito bem com aquela próspera fábrica de automóveis que dava seus primeiros passos. Sua produção, em série, começava a ser exportada para o mundo inteiro em larga escala, e, era fator de orgulho para a América.  
Entusiasmados, principalmente, pela boa remuneração, todos os funcionários se esforçavam ao máximo, para que a produção daquela Indústria importante se mantivesse em franco desenvolvimento. Trabalhavam com tanto gosto que, cada qual, independente de posto ou função que exercia, parecia, até, ser o próprio dono da fábrica. 
Eu disse todos? Perdão, nem todos! Existia um funcionário, um único funcionário, que na realidade, nunca houvera demonstrado o empenho dos demais. Muito pelo contrário: Chegava constantemente atrasado em seu lusidío automóvel que ganhara de presente do Sr. Henry, dono da ‘fábrica’; faltava ao serviço; era visto constantemente dormindo debruçado sobre sua mesa, onde não se via o menor resquício de expediente, nem sequer uma solitária folha de papel. 
Na verdade o homem não fazia, absolutamente, nada. Tal inércia, com o tempo, começou a despertar nos demais um forte sentimento de reprovação que, com o passar dos dias, se transformou em completa rejeição, antipatia e revolta. Para incitar ainda mais o descontentamento de parte dos laboriosos trabalhadores daquela bem fadada indústria, alguém da cúpula deixou vazar, talvez, por arroubo de ciúme, a informação de que o tal sujeito tinha o melhor salário dentre todos os funcionários, ganhando uma verdadeira fortuna. Nem o salário do gerente ‘chegava perto’ do que ganhava aquele estranho funcionário, que pouco falava e menos, ainda, trabalhava. 
Daí pra frente, gerada pelo descontentamento de quase todos os demais trabalhadores, a firma começou a ver uma paulatina queda em sua produção que, até então, apresentava picos altíssimos em seus gráficos. Não demorou muito tempo e o dono da fábrica recebeu a visita de um dos chefes de produção que, não obstante ter ótimo salário, viera pleitear  equiparação salarial ao do tal homem, sob pena de se demitir. 
Ao receber a pressão do descontente, o dono da fábrica não perdeu a pose: 
-O Sr. Tem certeza que quer demitir-se? Já pensou na responsabilidade com a família? Sabe que existe um grande número de profissionais tão exímios ou melhor que o senhor, desempregados e doidos para tomar seu lugar? Onde o senhor iria ganhar o salário que lhe pago aqui? - Arguiu o Senhor Henry.
-Mas senhor é duro ver um colega que ganha uma fortuna passar o dia inteiro sem fazer nada enquanto eu me mato de trabalhar e ganho muito menos que ele – disse. 
-Ledo engano! O senhor está muito equivocado.  Quase todos aqui recebem exatamente o que merecem. Na verdade a única exceção é o nosso amigo que por hora se tornou alvo de suas críticas. Ele, talvez seja o único a ganhar menos do que merece. Ninguém aqui produz mais que ele! Nem eu! -Confessou. -E diga-se de passagem, se o Senhor tem um ótimo salário, também pode agradecer aos momentos em que ele divaga por aí, sem, aparentemente, fazer nada !
-Como assim? Disse o agora tão incrédulo quanto espantado reclamante.
-Ele é o pensador, e como tal recebe para pensar, posto que é super inteligente. Pensar é o trabalho mais pesado que existe, e, talvez, seja essa a razão para que tão poucas pessoas se dediquem a essa tarefa.   Daí o grande sucesso de nossa fábrica. Basicamente, pagamos a ele para nos trazer idéias e soluções. Isso nos trás lucros! Agora, se o senhor quiser se habilitar a ser um outro pensador, teremos o maior prazer de equipará-lo a ele! E se por acaso o senhor nos apresentar maior produção mental  e nos trouxer mais lucros com suas idéias, poderemos pagar mais que a ele. Tudo é uma questão de produção.
O homem tão envergonhado quanto arrependido, baixou a cabeça e se retirou para seu setor de trabalho. Logo logo os índices de produção voltaram a aquecer na Ford e os funcionários do gênio Henry Ford, voltaram a trabalhar com mais afinco ainda.

Nota:O jornal FOLHAdoIGUASSÚ está nas principais bancas de jornal de Nova Iguaçu


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