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terça-feira, 22 de setembro de 2015

Mistério do Sítio nos confins de Rio D’Ouro

Mistério do Sítio nos confins de Rio D’Ouro
 De certa feita, há cerca de cinquenta e tantos anos atrás Namiro, que hoje é aposentado e mora em Miguel Couto deixou Minas Gerais e veio morar com a família no Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro Moquetá, aqui em nova Iguaçu. Foi quando seu pai que se chamava Joaquim conheceu um comerciante que, por coincidência, também era Joaquim. Tão logo se certificou da honradez, e, da experiência no trato com as coisas da terra do Joaquim mineiro, o Joaquim comerciante de Nova Iguaçu fez ao xará uma proposta para que ele fosse tomar conta e morar com a família em um sítio seu, que distava cerca de uma hora de Rio D’Ouro (andando a pé).
Após conhecer o local a família se encantou e, de pronto, o velho deu a palavra final aceitando a proposta do comerciante. “É muita sorte um local como este estar sem caseiro!”, comentou um dos filhos. Com efeito, pelo menos para quem não conhecesse mais amiúde o local, tinha sentido semelhante observação. Até o limite do olhar humano, fartura e beleza ressaltavam-se naquele local. A começar pelo viço da horta, passando pelo pomar repleto de coloridas frutas, um riacho, de águas límpidas, abalroado por carás, traíras, bagres, lambaris, piaus, piabas... e, ainda, para diversificar qualquer cardápio, um imenso cercado de tela, tendo ao centro um galinheiro, onde galinhas ‘caipira’ se misturavam às ‘D’Angola’, patos, marrecos, perus. Um pouco mais distante, a sinuosidade das serras do Alto Tinguá, tintadas pela Mãe Natureza nos mais variados tons de verde da Mata Atlântica tinha encontro obrigatório com o magnífico azul do céu que, se durante o dia ganhava claridade ao ser banhado pela luz do sol, durante as noites despoluídas daqueles tempos, seu azul escuro profundo, contrastava com o brilho ofuscante da luz das estrelas, lembrando uma abóbada aveludada sobreposta a um punhado de cintilantes diamantes, evidenciando a grandeza insondável do infinito. Mal sabiam, porém, que não obstante toda aquela magnitude, coisas estranhas, muito estranhas, acontecia com frequência naquele distante pedaço de terra. Coisas que acabaram por deixar perplexos os membros daquela prole familiar.
-Eu era ainda uma criança quando fomos morar naquele sítio em Rio D’Ouro. Toda vez que me lembro desse episódio chego a ficar de ‘cabelo em pé’, conta Namiro com o dedo indicador apontado para os cabelos do antebraço que se encontravam arrepiado.
Pelo alvoroço dos cães ladrando  no terreiro achamos que algum animal selvagem houvera invadido o sítio. Meu pai sem perda de tempo carregou a espingarda de calibre 12, com poder de fogo suficiente para derrubar um ‘dinossauro’ e , tendo eu e meu irmão a segui-lo, se dirigiu ao lugar da balburdia. De certo, fosse qual fosse o invasor  estaria em apuros, até porque, o velho era considerado exímio atirador conforme ficara comprovado tempos atrás nas matas de Minas Gerais, por isso mesmo imaginei que logo, logo, o couro do bicho estaria esticado na parede, ou servindo de tapete no piso tosco da sala a molde de decoração

Ao chegarmos ao local da algazarra verificamos que aos poucos nossos cães foram se aquietando. Agora o alvoroço se dava no sítio ao lado, e, os latidos vinham da matilha do vizinho, certamente a fera teria ultrapassado os limites da propriedade. Mas como poderia, se a cerca que limitava os dois sítios era, por assim dizer, uma extensa muralha de intransponível espinheiral? Nada nem ninguém teria como transpô-la  em curto período de tempo. Para intrigar, ainda, mais nossas mentes, os cães do nosso sítio voltaram a  atacar. A algazarra agora era alternada. Em alguns segundos se dava em nosso território, em outros na propriedade ao lado.

Sob as ordens de papai nos acocoramos atrás de uns arbustos e aguardamos que o motivo de toda aquela balburdia surgisse em nosso campo visual. Para buscar mais precisão no momento do tiro, o “velho”, “descansou” estrategicamente o cano da ‘12’ na forquilha de um arbusto, por trás do qual se atocaiara e ficou pacientemente no aguardo. A sorte do bicho estava lançada! Já se iam alguns minutos, quando para nosso espanto, eis que, surge bem a nossa frente uma figura do tamanho de um homem tendo a cachorrada toda em seu encalço. 

 Ao determos-nos em sua silhueta e movimentos o pavor tomou conta. Meu pai nem tanto, porém eu e meu irmão, sim! Aquela coisa não era humana, também não poderia fazer parte da fauna do planeta. Fosse lá o que fosse, deslocava-se saltitando propulsionado pelas patas traseiras e usando as dianteiras somente como base, como um sapo. Papai fez pontaria e 'largou fogo'. Deu para ouvir perfeitamente o eco do tiro estrondoso no 'pé' de uma colina distante, fração de segundos antes de uma estranha cortina de fumaça envolver a todos.  

Quanto ao bicho esse sumiu no meio da fumaça e aos poucos os cães foram parando de latir e o silencio voltou a reinar sem que encontrássemos uma explicação para o acontecido.  Diante da escuridão intensa, nos restava voltar pra casa, deixando para o amanhecer do dia seguinte a procura de vestígios do animal, estivesse ele vivo ou morto. Uma coisa era certa para mim aquele bicho não era desse mundo. No dia seguinte procuramos em todos os quadrantes do sítio e nada encontramos...para mim aquilo era o tal do "Chupa Cabra", concluiu Ramiro com olhar de pavor.

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