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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Ambientalista assassinado

Prezados;
Segue uma triste notícia:

Emanuel Alencar - O Globo
RIO - O espanhol Gonzalo Alonso Hernandez, de 49 anos, assassinado na noite de domingo na área rural de Lídice, em Rio Claro, no Médio Paraíba, vinha fazendo uma série de denúncias de crimes ambientais à prefeitura. O secretário de Meio Ambiente da cidade, Mário Vidigal, disse nesta quarta que Hernandez era frequentemente alertado sobre problemas que poderia enfrentar ao manter uma postura implacável contra caçadores e desmatadores. 
— Ele era um idealista da causa ambiental. Não tinha conversa: se visse algo errado, ia mesmo para cima. Enfrentamos sérias dificuldades no combate aos crimes ambientais em Rio Claro. Só contamos com três guardas e não temos carro para fiscalizar — afirmou o secretário.
Nascido em Santander, na província espanhola de Cantábria, Gonzalo Hernandez veio para o Brasil no fim dos anos 90. Há sete anos, abriu mão do generoso salário de diretor de uma empresa de telefonia e decidiu praticar no dia a dia a defesa das florestas e dos animais: passou a morar numa chácara a 9km do Centro do distrito de Lídice. Vivia sozinho numa confortável casa encravada num vale. Nos fins de semana, contava, desde 2007, com a companhia de Maria de Lourdes Pena Campos. O casal se conheceu numa concessionária de automóveis, em Botafogo. Lourdes era funcionária da loja. Diz que Hernandez passou a paquerá-la. Mais tarde, a conquistou.
Atingido pelas costas
Na noite do último domingo, o espanhol levou a mulher, de carro, a Piraí, onde Lourdes pegaria um ônibus para a capital. O último contato entre os dois, por celular, foi às 20h36m. A polícia acredita que, cerca de 30 minutos depois, o espanhol foi atingido pelas costas na porteira de sua chácara. A bala — a polícia ainda não sabe o calibre — entrou na nuca e saiu pela têmpora esquerda do biólogo.
O corpo só foi encontrado na manhã de terça. Estava soterrado por pedregulhos e folhas de bananeira, num riacho que fica a menos de cem metros da casa da vítima. Foram levados um laptop, o celular de Hernandez e duas lanternas.
— Ele era uma pessoa introvertida, que gostava muito de estudar, ler e ficar em casa. O hobby dele era cuidar dos três cachorros e da natureza. Uma pessoa muito inteligente — diz Maria de Lourdes. — Ele queria fazer um blog sobre meio ambiente, mas não deu tempo. Sempre falei para ele ter cuidado (com as denúncias). Mas ele dizia que o grande problema dos brasileiros é nunca reclamar de nada. Gonzalo não tinha medo de nada. Na verdade, eu temia por esse desfecho. É o que sempre ocorre neste país, não é?
O advogado Sérgio Lima, presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Condema) de Rio Claro, dono de um sítio na região há 20 anos, também acredita que a motivação do crime tenha sido a feroz luta do espanhol contra caçadores de pacas, capivaras e porcos-do-mato no Parque Estadual Cunhambebe:
— A presença ostensiva de caçadores sempre foi um problema da região. Ele participava de reuniões do conselho com regularidade. Sentava-se ao meu lado. Queixava-se da presença de caçadores e palmiteiros. Acredito que tenha sido vítima de uma tocaia. Gonzalo passava a imagem de um guerreiro em prol do meio ambiente.
Quase 30% do orçamento de Rio Claro é proveniente do ICMS Verde, uma espécie de compensação aos municípios que preservam a natureza. No ano passado, foram repassados R$ 6,9 milhões à cidade. Hernandez participava do programa Produtores de Água e Floresta, uma parceria do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) com o Instituto Terra de Preservação Ambiental, a prefeitura de Rio Claro e a ONG The Nature Conservancy. Ele recebia uma compensação financeira pelo zelo ambiental.
O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, disse que cobrará uma rápida resposta ao crime e classificou a morte de Hernandez como absurda. A Polícia Civil aguarda o laudo do IML e a análise das impressões digitais deixadas no jipe do ambientalista. A morte do biólogo foi tema de uma reportagem do jornal “El País” nesta quarta. O texto dizia que as autoridades brasileiras ainda não se pronunciaram.

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