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segunda-feira, 6 de junho de 2016

Nos Tempos do Paraíso



Por: Wandemberg
NOS TEMPOS DO PARAÍSO
 Suponho que os que tiveram suas adolescência lá pelos idos dos anos 60, como eu, por exemplo, viveram em épocas paradisíacas e lúdicas por excelência, pelo menos nessas bandas de cá da extinta (que pena) Estrada de Ferro Rio D'Ouro, em localidades mais próximas às Serranias do Tinguá.
 Naqueles tempos mágicos a natureza exuberante  reinava soberana  à partir  de poucos metros do centro de Miguel Couto, onde vivo desde que nasci, há sessenta e oito anos atrás.
 Como milagre Divino as necessidades básicas alimentares estavam ao dispor da pequena população. O 'finado' Rio das Velhas (em Miguel Couto), que hoje é polo de poluição, naqueles tempos, ainda em 'vida', além de provedor, era um de nossos brinquedos prediletos, facultando além do prazer da natação, ainda, a garantia do peixe à mesa de muita gente, sem falar na extração de areia que quando vendida rendia alguns cruzeiros a qualquer cidadão. O 'Valão da Madame' (Figueira II) permitia a pesca de Bagres e Carás. Já no Rio Iguassú (em Iguaçu Velho), para aqueles que quisessem sofisticar o cardápio, era só afundar o jererê (espécie de peneira) e  sacolejá-lo de baixo para cima nos galhos das vegetações mergulhados sob a lâmina d'água, que os camarões de água doce (Pitú) vinham saltitando aos montes para abarrotar os bornais dos pescadores. Emfim, para os que não quisessem 'pegar' o 'Maria Fumaça' (trem à vapor), para trabalhar na então capital do país (Rio de Janeiro), comida é que não faltava. Não obstante às dádivas do Rio outras opções alimentares abundavam para um cardápio tão farto quanto variado: mamão, jaca, manga, cajá, jamelão, laranja, cana, ingá, araçá, goiaba, banana...estavam a mercê de todos na natureza pródiga e generosa, que se eximia da cobrança de quaisquer ônus. Sem dizer que não faltavam terras, onde os mais esforçados podiam, ainda, plantar: milho, feijão, aipim, abóbora, hortaliças, legumes  e uma infinidade de outros alimentos. Ah, sim, ainda havia caça em abundância.


 OS PASSEIOS DE SÁBADO NA 'MARIA FUMAÇA'
 Os passeios da molecada para Tinguá, Jaceruba, Rio D'Ouro, Santo Antonio ou outras estações de trem do 'Pé de Serra', se davam, geralmente, aos sábados (domingo era sagrado para o futebol). Pagar passagem de trem? Nem pensar, até porque não tínhamos dinheiro. Esperávamos o trem logo após a estação e o 'pegávamos' com ele em movimento. Subíamos para o teto do vagão de carga, através de uma escada fixa que ficava entre vagões (perigosíssimo) e viajávamos lá em cima de cara pro vento. Dessa forma evitávamos o bilheteiro. O trem era mais um brinquedos que fazia parte do nosso 'mundo encantado'!
 Nesses dias a alimentação requeria um planejamento mais complexo. Galinha assada, por exemplo, era provento certo nas mochilas dos meninos, porém consegui-las requeria certa estratégia. Nas sextas- feiras que antecediam aos passeios, dois ou três galinheiros das casas dos próprios moleques(quase todas as casas tinham galinheiro e horta) eram visitados na 'calada da noite', por eles mesmos, sem que os pais soubessem, no firme propósito de reduzir em cerca de meia dúzia o censo da população de penosas, em prol do Pic-nick da turma, bem como de saciar a fome insaciável da molecada. O interessante é que a 'coisa' era feita de modo auto-sustentável: se nesta semana galinhas saiam do galinheiro de minha casa, na outra seria na casa de outro, para que nossos pais não desconfiassem. Muitos pais sabiam, mas não ligavam. havia muita fartura! 
  A BICA DA RUA H  - Havia uma bica 'gigantesca no Centro de Miguel Couto, na rua Marli Carvalho Pereira(antiga Rua H), em frente de onde é hoje o Mercadão Popular, dessa bica vertia água tão translúcida quanto gelada, onde os moradores , principalmente, os que moravam na periferia do bairro, enchiam suas latas e carregavam sobre a cabeça protegida com rodilha(saco de linhagem torcido que ficava entre a lata d'água e a cabeça para evitar ferimento). Naquele tempo as casas não tinham água encanada e as opções eram: água de poço, a bica gigante ou água do Rio das Velhas. 
 Pois bem, mas vamos ao que interessa! De posse das galinhas, os responsáveis pelo preparo das aves: dois ou três moleques escalados, iam para a tal bica limpá-las, sem antes deixar de acender uma pequena fogueira para ferver água com objetivo de soltar às penas. Ali mesmo as galinhas eram temperadas e jogadas numa lata de 10K. Após a operação que se dava tarde da noite, quando não havia mais população à rua, as galinhas eram levadas para a Padaria Santo Antonio (hoje do Arnaldo) para serem assadas no forno à lenha enquanto  os moleques incumbidos da 'missão frango', 'tiravam' um cochilo aquecidos pelo calor do forno. Sobre o influxo do calor à beira do forno, sobre um platô de cimento, agregado, havia sempre uma chaleira com café à disposição de todos e uma cesta de pães quentinhos. Numa dessas vezes, em plena madrugada fui acordado por Dona Amélia, mãe do Arnaldo e esposa do saudoso Seu Manoel. Quando vi de quem se tratava, não sabia o que fazer. sabia, isso sim, que se dona Amélia falasse com meu pai, iria tomar uma 'coça' de vara de goiabeira. Ela disse que ia contar, mas pra minha sorte não contou. Dona Amélia, até hoje, já velhinha, tem coração de ouro!
 Garantido o 'rango' o sábado no 'Pé da serra' prenunciava ser maravilhoso. Pelas sete da manhã o restante da gurizada estava lá ao lado dos trilhos, após a Estação, à espera do trem para tomá-lo de assalto. No bom sentido é claro! Nessas nossas incursões, vez por outra nos metíamos em confusão(briga), mas isso é assunto para uma próxima oportunidade!   

     Tecnologia de Ponta
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