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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A ÚLTIMA CAÇADA

Por: Wandemberg
Da série : De certa feita...
Se existe uma 'coisa' a qual eu não acredito, essa coisa se chama assombração. É, amigo, afirmo e reafirmo! Sou daqueles que não acreditam em assombração! Mas, cá pra nós, que elas existem, existem! Principalmente nas florestas, na condição de guardiãs, coibindo o abuso dos invasores que inadvertidamente vão lá pra matar, desmatar, poluir ou pilhar. 

Se você parar algum dia para conversa com gente da mata, logo, vai entender o que quero dizer. Seu Almir é um desses. Almir já testemunhou fatos de arrepiar. Fatos que acabaram por demovê-lo das caçadas, hoje é contra, principalmente às esportivas!  

Numa edição passada, escrevemos sobre um acontecimento de ‘arrepiar’, que ele nos contou, sobre a surra recebida por dois caçadores, em plena mata do Alto Tinguá, aplicada por seres invisíveis. O mesmo Seu Almir me deu conta que em outra oportunidade ao subir a serra com amigos para uma caçada: 


"os cães que nos acompanhavam, em determinado trecho do caminho, ficaram paralisados e visivelmente apavorados, se negando terminantemente a continuar a subida, não havia ’doutor’ que desse jeito, era como se tivesse uma barreira de seres invisíveis, apenas, para nós humanos, não para os caninos. O resultado foi que voltamos", disse Almir com olhar de pavor!

Outro acontecimento fantástico se deu com o seu Capixaba, ex-caçador, que nos fala sobre sua última caçada. 

               
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A ÚLTIMA CAÇADA
De certa feita seu Walter da Silva, mais conhecido em Tinguá como Capixaba da Pensão, nos falou dos estranhos acontecimentos em sua derradeira caçada, quando se viu acuado por porcos do mato. 
Caçador de tiro certeiro, mateiro experiente, devido seu notório conhecimento da Mata Atlântica, que vai desde o Espírito Santo até o Sul do Estado do Rio, era, também o preferido dos biólogos e demais estudiosos para acompanhá-los em suas incursões de estudo à floresta. Não obstante quando ia caçar, seu Capixaba preferia ir só.   

-Estava na época da procriação de porcos do mato e subi à reserva a procura de alguns. Por conta da longa espera, sem que qualquer um deles passasse pelas trilhas que vasculhava, já ia desistir quando dei de cara com um grupo deles do qual consegui catar dois filhotes. Ia tudo bem até que resolvi me apropriar de um terceiro. No momento em que acomodei este último no saco em que estavam os demais, ele começou a gritar desesperadamente. Surpreendentemente, em fração de segundos, me vi cercado e acuado em uma pedra por centenas deles que, ameaçadores, trincavam freneticamente as presas produzindo um matraquear ensurdecedor, enquanto raspavam vigorosamente as patas ao chão levantando folhas, galhos e poeira, criando assim um grande reboliço. Estava armado com uma espingarda e um revólver, mas, não sei por que, não me senti com o direito de atirar. A única coisa que me veio à cabeça naquela hora era que os componentes daquela ‘vara’ de porcos do mato exigiam que eu soltasse imediatamente seus filhotes. Foi o que fiz! 


Ao devolvê-los, segundos depois, eles sumiram na mata como que por encanto. Para mim o acontecimento soou como uma mensagem da floresta. Naquele momento encerrei minhas atividades de caçador. Nunca mais dei um tiro em um bicho qualquer, conta Walter!   


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