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segunda-feira, 11 de março de 2013

Salão Popular faz 14 anos






































Matéria e foto: wandemberg

Existem uns poucos anjos, aqui e ali, que só não são localizados porque só os procuramos nos ambientes suntuosos. Se os procurássemos nos ambientes mais pobres nos surpreenderíamos. Sei de um que nasceu numa manjedoura a mais de dois mil anos atrás... 
Outro dia, mesmo,  encontrei um desses (ou dessas), ou melhor, foi ela quem me procurou...  

Fui pego de surpresa quando uma senhora, a Dona Ivone foi lá à Câmara Municipal de Nova Iguaçu (onde faço habitualmente a cobertura, de seções  do Legislativo, para este jornal), me contratar para reportar o aniversário do seu salão de cabeleireiro que estava fazendo 14 anos, pelo visto, de feliz existência. 

A Casa encontrava-se em plena seção ordinária, quando a senhora me abordou e foi logo me perguntando quanto eu cobraria, ao tempo em que fazia menção de abrir a bolsa para pegar o dinheiro e já efetuar o pagamento pelo serviço a ser prestado. De pronto recusei o pagamento, mas garanti que na sexta feira às 15 horas estaria lá para colher a notícia. Despediu-se, deixou-me um convite, e, com a mesma objetividade com que chegou foi embora, enquanto eu fiquei tentando localizar, mentalmente, a loja da senhora! ‘Espera aí, mas não existem lojas na orla do viaduto’ - local  indicado no convite, pensei!

De qualquer forma, no dia e hora marcados, me dirigi ao local e pus-me a procurar, no entorno do elevado, pelo salão, e nada! Até, que notei um movimento em um dos pilares de sustentação do viaduto, onde havia algumas bolas de cor azul claro, penduradas, movendo-se ao sabor do vento.  Foi aí que passei a entender a verdade do salão da Dona Ivone. Não funcionava em nenhuma loja. Na verdade ficava embaixo do Viaduto, onde algumas pessoas muito humildes se encontravam sentadas ao redor de uma mesa que tinha ao centro um bolo. Nem todos, mas a maioria ali tinha como teto a ponte que transpunha a linha férrea, residentes´ que eram, daquele 'condomínio público’. 

Se faziam presentes alguns jovens que passavam a impressão de serem  vendedores ambulantes, mas havia gente de rostos envelhecidos, com certeza, prematuramente, bocas desdentadas, expressões sofridas, surrados pelas vicissitudes da vida. Todavia, revelavam nos olhares, por trás das olheiras arroxeadas, uma réstia de felicidade, provavelmente, proporcionado por aquele momento tão raro quanto especial promovido pela anfitriã ao tê-los convidados para a 'festa'.  

Logo notei que dona Ivone é uma espécie de anjo do Senhor, que cobra pouco mais de um real por corte de cabelo, aos -  ‘com teto/sem parede’ - no caso de estarem com dinheiro, e, zero aos mesmos, no caso de  se encontrarem ‘momentaneamente’ desprovidos de 'capital' como é o caso de alguns dentre aqueles ‘condôminos’.

Bati fotos e Fui colher outras matérias. Pena que não pude ficar para aqueles momentos de partilha,  a Câmara de Vereadores me aguardava para 'cobrir' um evento especial no Dia das Mulheres.    

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