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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Eu Paraquedista do Exército

Num  (C-119  - Hoje 'aposentados') como esse, dei meu 1º salto
Por: Wandemberg
Eu Paraquedista do Exército
 Junho de 1968. Dentro de alguns minutos iria abandonar pela 1ª vez um avião em pleno vôo, e, após seis meses de intenso treinamento físico, mental e psicológico, realizar o sonho de conquistar, definitivamente: Brevet, boina vermelha, but marrom e me tornar, até o último dia da minha vida, um Paraquedista do Exército Brasileiro! Um orgulho! Um privilégio! Uma realização!

Ali, com meus companheiros de tropa, jovens com idade entre 16 e 18 anos, cada qual equipado com dois paraquedas – o principal e o reserva -   um filme povoou minha mente, com a sequência de cenas dizendo como fui parar no interior daquele avião, um C-119, do qual dentro de instantes iria fazer o meu 1º salto de paraquedas, na condição de Paraquedista do Exército Brasileiro
Naquele momento enfrentava o desconhecido, nunca houvera, sequer, entrado em um avião, o máximo que me aventurara em termos de altura fora subir na jaqueira do quintal de minha casa e andar de elevador. De repente me vejo dentro de uma aeronave, circulando a Igreja da Penha, vendo o Corcovado bem ao lado, o Pão de Açúcar, curtindo a imensidão do oceano, e, o trem da Central do Brasil como se fosse uma centopeia serpenteando lá por baixo. Será que não estaria sonhando? Não, felizmente não estava! O que estava acontecendo era a realização de um sonho que, desde que acompanhei um amigo no dia de sua "Baixa" da Aeronáutica, se tornara uma compulsão! Deus existe, pensei!  
Ainda, hoje, me lembro do exato momento em que tomei ciência da existência da 'garbosa Tropa de Elite'. Era novembro, e, o ano de 1967 se aproximava do fim. Meu amigo Décio, já, falecido,  iria 'dar baixa' da Aeronáutica e convidou um grupo de amigos do futebol, para ir participar da cerimônia lá na 'cidade' - era assim que nos referíamos ao Rio de Janeiro, posto que, Miguel Couto onde morávamos era considerado 'roça'- Achei legal, lá no Campo dos Afonsos visitamos o hangar de um museu onde estava o famoso XIV Bis (não sei se réplica), que fez história com o “Pai da Aviação” Santos Dumont, bem como outros aviões do famoso “Senta a Pua”, grupo que participou da II Guerra Mundial – ORGULHO, com letras maiúsculas, da nossa querida Aeronáutica e de todos os Brasileiros! 
 Já havíamos assistido a emocionante cerimônia de despedida de Décio e seus pares. Era hora de regressarmos, o relógio marcava 13 horas foi quando olhei para uma pista secundária, onde um grupo de rapazes de uniforme camuflado em tons predominante de verde e marrom, estavam sentados em fila, cada qual meio que deitado em uma espécie de mochila presa às costas, e, com uma mochilinha ao peito. Intrigado indaguei ao Décio, sobre, quem eram aqueles com mochilas? No que respondeu, são Paraquedistas do Exército e não são mochilas, são paraquedas! E o que estão fazendo ali, perguntei? Estão esperando o avião para saltarem de paraquedas, respondeu-me! 
 Logo depois um avião que acabara de pousar tragou para seu interior, em questão de minutos, os rapazes e alçou vôo. Vinte ou vinte e cinco minutos depois o avião lançou a equipe, sob meu olhar incrédulo de 'matuto'! Fiquei impressionado e falei para os amigos que queria ser um daqueles, meses depois me alistei no Exército e pedi para ir para a tropa voluntária de Paraquedistas!
 Mas não era fácil, 'ralamos' muito! Era exercício o dia inteiro, e, quase sempre com os dois paraquedas: o pequeno reserva no peito, e, o principal às costas! Até o lanche das 10h., uma mariola e um caneca de lanjal (suco de laranja) eram deglutidos, com a turma equipada com os paraquedas, sem sentar e saltitando. Não tinha 'moleza', ali, no curso o movimento constante era obrigatório, ninguém podia parar. Quem parasse na área de estágio, exceto na hora do almoço, estava desligado sumariamente do curso, e, não poderia mais ser paraquedista, sendo imediatamente desligado e transferido para um quartel de outra especialidade.
 No final nós que vencemos as primeiras fazes fomos, em pleno inverno, para a Mata em Xerém, para o treinamento de Guerrilha na Selva, Fuga e evasão, etc... Foi uma semana, em clima de guerra o tempo todo, dia e noite. Vez por outra éramos submetidos à tortura, choques, mergulho em rios de água gelada em plena madrugada, confronto com as patrulhas de paraquedistas já formados, momento em que 'tampávamos' na porrada com tropas inimigas simuladas... Em Xerém só os muito bom logravam vencer, muitos foram desligados, me orgulho de dizer que venci os obstáculos surgidos, por isso estava ali naquele avião, para o salto da vitória, revendo as cenas do filme que me vinha à cabeça! Foi quando uma luz verde, acionada pelo piloto começou piscar intermitentemente! Era a ZL (zona de lançamento) se aproximando.
 Logo surgiu o  comando efetivado pelo Mestre de Salto, um oficial: “Preparar! Levantar! Enganchar! Verificar equipamento! À Porta! Já!"
 E, lá fomos nós Céu abaixo, ladeados pelos anjos do senhor que, embora invisíveis, sabíamos que estavam por perto para nos saldar! Afinal de contas estávamos no céu, e, não é lá a pátria de Anjos, Deuses e Paraquedistas?


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